O dia passou, com as horas que se arrastavam lentamente, com os minutos que me castigavam, num tick tack descoordenado, errado…O tempo, sincronizado, coordenado deixou de o ser, perdendo a sua essência, deixando de ser aquilo que fora, confundindo o meu espirito… aprisionando-o nos momentos que queria mudar, corrigir. As tuas lagrimas morriam nos meus olhos, os teus sorrisos desvaneciam-se no nada, no fumo das memorias que não regressariam.
Os segundos voltaram atrás, bruscamente, cruelmente, alimentandos pelo desespero, pela agonia… A culpa ardia no meu peito, inflamando-o, como alquimia, tornando-a em odeio que mal posso conter.
O sol iluminava o céu límpido, uma massa de vida mergulhada num mar azul pintado com leves manchas brancas. Via-se o céu ironicamente refletido na água, ou a água refletida no céu azul profundo, infinito…
Daquela altura, o mundo parecia estender-se para a eternidade, coberto de oportunidades e novos começos, prometendo uma felicidade que nunca poderia alcançar, nunca, sem ti ao meu lado. Pergunto-me se este dia sempre estaria destinado a ocorrer, se todos caminhamos lentamente para um final triste e se toda a felicidade não passa de uma ilusão passageira, frágil como a suave brisa que toca os meus cabelo. Pergunto-me se a dor que sinto agora passará se cruzar a barreira, se fugir cobardemente para o outro mundo. Porém, talvez, seja demasiado cobarde até para isso…
Nesse momento, tu chegas te, tal como no dia em que me tinhas abandonado, no mesmo local, sobre a ponte… Os teus olhos castanhos choravam ainda… Lagrimas angustiadas cobriam a tua face, o teu cabelo de reflexos loiros não moviam com a brisa. Mesmo assim um esboço de um sorriso surgia nos teus lábios, na felicidade do reencontro misturada com a dor…
Sorri te e não consegui evitar as lagrimas a medida que avançava na tua direção. Os passos a principio hesitantes rapidamente se tornaram uma corrida desesperada e o teu semblante tornou se sombrio, agoniado por cada metro que me aproximava…
Nesse momento voei, uma sensação alucinante que durou apenas alguns segundo até que mergulhei na agua fria, mergulhei no céu e senti me a afundar, lentamente enquanto a agua me envolvia como o abraço de um amante e suavemente voltei aos teus braços quentes e pela primeira vez desde a tua morte senti me realmente feliz, novamente reunidos, para toda a eternidade…
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Just because we all have blue desires…

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